“O edifício é uma trama de sons regulares, sempre iguais, como o bater do coração.”
“The building is a weft of regular sounds, always the same, like the heart’s beat.”
(Italo Calvino)
“Na kal lingu ke n na skirbi ña diklarasons di amor?”
(Odete Semedo)
Em que língua vamos contar as histórias que nos foram contadas? Em que língua escrever uma declaração de amor?
Lisboa, Bairro das Colónias, terceiro andar. Transmitindo e traduzindo o cruzar sensível de diversos universos, Fatumata e Aissato, mãe e filha, dialogam sobre o amor e a construção da felicidade. Narrativas e línguas que adquiriram em diferentes lugares e etapas da vida foram determinando os seus sentimentos. Pelas 19h, do terceiro até ao meu quinto andar, ressoa pelo prédio um som regular, sempre igual, como o bater do coração.
O filme e o díptico "Terceiro Andar" convidam o espectador para o espaço da palavra e do diálogo entre a mãe e a filha primogénita de uma família numerosa originária da Guiné-Bissau, e para o espaço sonoro e plástico do prédio onde esta família e a cineasta habitam. No suceder-se de um poema, de um conto, de uma carta e uma reza, as palavras transitam de uma língua para a outra, de uma interlocutora e de uma voz para a outra, criando ligações. O som sobe as escadas e os patamares, atravessa as paredes, as portas e os corredores, ocupa as casas e as varandas, percorre o prédio em toda a sua complexidade e permeabilidade.
Com o díptico "Terceiro Andar", migrando para o espaço de exposição, Luciana Fina ensaia mais um gesto cinematográfico que interroga as formas narrativas e a matéria do cinema.
Which language shall we use to tell the stories we have been told? In which language shall we write a declaration of love?
Lisbon, Bairro das Colónias, third floor. Conveying and translating an insightful encounter between different worlds, Fatumata and Aissato, mother and daughter, discuss love and the happiness. Their feelings have been determined by narratives and languages acquired at different stages of life and in different places. At 7pm, from the third to the fifth floor, where I live, a regular sound, always the same, like the beating of a heart, reverberates through the building. (Luciana Fina)
The film and the diptych "Third Floor" invite the viewer to the space of the word and the dialogue between the mother and the eldest daughter of a large family originally from Guinea-Bissau, and to the physical and acoustic setting of the building where this family and the filmmaker live. As a poem, a story, a letter and a prayer are spoken, words travel from one language to another, from one speaker and one voice to another, creating connections. The sound rises up the stairs and landings, seeps through the walls, doors and corridors, occupying homes and balconies, travelling through the building in all its complexity and permeability.
With the diptych Third Floor, in a migration to the exhibition space, Luciana Fina once again uses cinematography to question cinema’s narrative forms and matter.